Conheça a história e a importância da arte do Jequitinhonha

Muito se ouve por aí que o Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais pobres de Minas Gerais. De fato, a maioria das cidades pertencentes à região, possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado.
Contudo, existem outros aspectos positivos que os moradores do Vale podem se vangloriar. Por exemplo, foi lá que surgiu o maior expoente do artesanato mineiro e, se não, o maior do Brasil.
A região é rica em belezas naturais, em cultura e arte, o que faz com ela seja um desejo de muitos brasileiros quando o assunto é viajar.
Pronta para conhecer mais sobre o artesanato do Jequitinhonha? Continue a leitura!
A história do artesanato do Jequitinhonha
O Vale do Jequitinhonha é composto por 5 microrregiões: Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina e Pedra Azul.
São cerca de 80 municípios e mais de 1 milhão de pessoas vivendo nas cidades.
O cultivo agrícola, a pecuária e claro, o artesanato, são as principais fontes de renda da população.
Mas por qual motivo uma região sofrida e castigada no passado pela mineração e extração de diamante, se tornou um dos pólos criativos do Brasil?
A mudança surge a partir da necessidade
A resposta tem a ver com a facilidade em se adaptar em situações adversas.
É preciso voltar no tempo, sobretudo, na primeira metade do século passado, para contar como tudo iniciou.
Por ser uma região carente, havia-se uma dificuldade em conseguir emprego na região do Jequi.
Isso obrigava os homens, naquele tempo, chefes de família, a rumarem para outras regiões, como Rio de Janeiro e São Paulo em busca de emprego, enquanto as mulheres e crianças permaneciam nas cidades mineiras.
O que fazer para manter a família com o mínimo de dignidade e alimentada?
Foi com esse pensamento que as mulheres do Vale começaram a enxergar no único recurso abundante da região, a oportunidade de melhorar suas vidas e gerar renda.
Nas mãos das artesãs, a terra seca se transformava em arte.
Só para você ter uma ideia, no início, as peças criadas não tinham o cunho comercial.
Elas eram produzidas de forma utilitária e trocadas por alimentos durante as feiras que aconteciam nas cidades.
As mulheres criavam potes, vasilhas e panelas.
O cultivo da arte trouxe mais autonomia para as mulheres que, consequentemente, começaram a liderar suas famílias, além de revelarem seus dotes artísticos para cada vez mais pessoas.
A virada de chave
A grande mudança aconteceu no início dos anos 70, elevando o patamar do artesanato do jequitinhonha.
As mulheres começaram a produzir peças decorativas, como animais e as tão conhecidas bonecas do Jequitinhonha.
Em virtude do êxodo dos maridos que buscavam uma vida melhor em outro estado, elas receberam o apelido de Viúvas de Marido-Vivo ou Viúvas Secas.
O talento empregado em cada produção permitia a construção de peças únicas e ricas em detalhes.
Dona Izabel, uma das pioneiras
Izabel Mendes da Cunha foi uma das pioneiras no assunto.
A ceramista, extremamente habilidosa com o barro, começou a moldar a matéria-prima ainda pequena ao lado de sua mãe e avó.
O talento era grande e contribuía para a criação de peças criativas e bem acabadas.
Do sucesso com presépios, ela começou a fazer bonecas.
Com penteados, com crianças nos braços, olhos azuis, pele negra, branca ou com vestido.
O que a sua imaginação mostrava, ela fazia.
Aos poucos, as peças foram aumentando de tamanho, formas e começaram a ganhar o Brasil.
De geração para geração
Dona Isabel faleceu em 2014, mas seu legado permanece aqui na terra.
Compartilhou o que sabia com seus filhos e com a comunidade a qual estava inserida.
Estimulou outras artesãs a fundarem as suas associações, como é o caso da presente em Santana do Araçuaí.
E o que falar de outras mulheres, pouco conhecidas, que também fizeram o mesmo?
A história da arte do Jequitinhonha é repleta de capítulos e aprendizado compartilhado.
Hoje, o cenário é um pouco mais confortável socialmente e economicamente.
Nem todas saíram da desigualdade, da vida difícil, mas as mulheres do Vale conseguem levar a sua arte para outros cantos do mundo e são valorizadas por isso.
E se você chegar em alguma delas e perguntar: como foi que aprenderam isso?
Sempre terá uma resposta parecida: foi minha mãe que ensinou, foi minha vó que me mostrou.
Agora, os maridos não partem em busca de emprego em outros estados. Eles ajudam na produção.
E se você achar que tem um dom artístico e quiser produzir as suas próprias peças de barro, você pode visitar as artesãs e colocar a mão na massa.
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